domingo, 1 de abril de 2012

As herdeiras da tradição vocal, Parte 4

O talento de três jovens cantoras. O jazz está bem entregue na figura de Renee Olstead, de Robin McKelle e da contrabaixista genial Esperanza Spalding.
A cantora e contrabaixista norte-americana Esperanza Spalding é, sem dúvida, uma das grandes revelações da musica jazz dos últimos anos e, nascida em 1984, Spalding tem já uma bagagem musical que impressiona. Tocou com Stanley Clarke, com Pat Metheny, fez parte das bandas de Joe Lovano e Donald Harrisson, e foi professora no Berklee College of Music, a maior faculdade de musica do mundo. E conta já com quatro excelentes discos na carreira, Junjo, Esperanza, Chamber Music Society e Radio Music Society, vencendo um Grammy em 2011, derrotando Justin Bieber, o que valeu a furia dos fãs deste que lhe inundaram as páginas de internet com insultos. A sua musica é cheia de sonoridades riquissimas, onde se notam vastas influências, nomeadamente latinas, reconhecendo Esperanza que encontra no genio brasileiro Hermeto Pascoal parte da sua fonte de inspiração para criar os seu arranjos bem elaborados. Foi mencionada pela revista Down Beat como "a melhor baixista em ascensão".




Nascida em Houston, em 1989, a texana Renne Olstead é considerada uma menina prodígio pois desde pequena começou a aparecer em spots televisivos, em diversos filmes e séries de tv e com apenas dez anos gravou um álbum country, intitulado, justamente, "Stone Country". Dois anos depois mudou de estilo musical, apontando baterias ao jazz com o lançamente do "By Request", álbum composto por clássicos do jazz como What a Wonderful World, Georgia on my Mind ou Over The Rainbow. O seu ultimo lançamento, "Skylark", segue tambem a linha dos seus álbuns anteriores, e mostra uma cantora apegada com firmeza ás tradições do jazz, e á procura do seu espaço entre as cantoras do género.




A nova-iorquina Robin McKelle, nascida em 1976, é muitas vezes comparada a Elle Fitzgerald pelo seu registo de voz alto. Embora se apresente como intérprete de Jazz, Blues e Soul, nota-se nos seus álbuns a preferência pela musica da era das Big Bands, com trompetes em surdina, solos vibrantes de sax e dose de ritmos latinos, o que lhe confere uma elegãncia sofisticada muito apreciada na Europa. Conta com quatro excelentes álbuns, Introducing Robin McKelle (2006), Modern Antique (2008), Mess Around (2010) e Soul Flower (2012).

sábado, 31 de março de 2012

Jobim e Regina: as aguas de Março.

Março é o mais chuvoso mês do ano no Rio de Janeiro, e com o andamento da música e da letra, o compositor Antonio Carlos Jobim, descreve o inexorável fluxo das águas pluviais em direcção ao mar. O poema em português,e a sua versão em inglês, constitui uma paen á promessa da vida.
Em 2001 uma pesquisa entre músicos e jornalistas brasileiros conclui que esta é a melhor de todas as músicas brasileiras.
Esta versão é de 1974, de um programa de televisão, em que Jobim canta com a sua amiga e incomparável cantora Elis Regina, algo que fez inúmeras vezes. Delicioso.

quarta-feira, 28 de março de 2012

STANDARDS DO JAZZ: What Is This Thing Called Love?

"What Is This Thing Called Love?" é uma canção bastante popular escrita por Cole Porter, em 1929, para o musical Wake Up and Dream.
A primeira interpretação da canção foi feita por Elsie Carlisle em Março desse ano. A cançao tornou-se depressa um standard do jazz bastante popular e uma das composições mais tocadas de Porter.
É uma canção tocada, normalmente, num ritmo rápido, e talvez a versão que mais se destaca seja a de Clifford Brown e Max Roach, com Sonny Rollins, em A Basin Street. No entanto, Sarah Vaughan oferece a versão vocal definitiva em Finest Hour, que mostra não só toda a melodia, mas também a sua capacidade pessoal para a improvisação. Foi uma musica que tambem fez sucesso na voz de Frank Sinatra, que juntamente com o clarinetista Nelson Riddle criou uma assombrosa versão da musica. Charlie Parker, nas jam sessions gravadas em Hollywod (The Legendary Jam Sessions), consegue também uma versão bastante inspirada, e que iria revisitar com regularidade.
Outras versões, muito boas, e que merecem um apontamento, são as de JJ Johnson, Trombone Master de 1957, Bill Evans em Portrait in Jazz de 1959, Art Tatum e Lionel Hampton em The Tatum Group Masterpieces, Vol.3, ou a mais recente do album de 2003, Standard of Language, do saxofonista Kenny Garrett.
 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Roberta Gambarini, a herdeira italiana ao trono de Ella Fitzgerald.

A vocalista Roberta Gambarini nasceu na cidade italiana de Turim, filha de obstinados fãs de jazz. Aos 12 anos, Gambarini começou a estudar clarinete e mais tarde, piano e composição. A sua educação jazzistica veio através de gravações de Ella Fitzgerald , Louis Armstrong , Billie Holiday , Sarah Vaughan e Carmen McRae. No final da sua adolescência, começou a cantar em clubes de jazz locais, mas cedo partiu para Milão, onde começou a trabalhar em radio e televisão. No entanto, a cena de jazz da cidade, provou ser um osso duro de roer, e assim em 1998, deu o salto para o New England Conservatory of Music, com uma bolsa de estudo. Duas semanas após a sua chegada aos Estados Unidos, Gambarini ganhou o terceiro lugar no Thelonious Monk International Jazz Vocal Competition, uma exibição que trouxe os seus talentos á atenção dos clubes de jazz de New York. Isto levou-a a trabalhar com Benny Carter e mais tarde com James Moody, que se tornou um grande amigo e um professor de valor inestimável. Debaixo da proteção de Moody, aprendeu a controlar os volumes do seu canto e aprendeu conselhos práticos sobre como sobreviver no mundo da musica.

Com um timing impecável de entonação, uma técnica incrível de scatting e habilidades natas de improvisação, a carreira de Gambarini tinha tudo para florescer, o que tem acontecido sem surpresa nos últimos cinco anos, culminando, até ao momento, com a nomeação para os grammy de Melhor Álbum de Jazz Vocal com o lançamento, em 2009, de So In Love.

domingo, 25 de março de 2012

Os Weather Report

Com o álbum Bitches Brew, Miles Davis lançou as bases do jazz-fusion: No entanto, o próprio Miles não se interessou muito pelo que acabara de criar, e seguiu outros caminhos, tentando novas revoluções musicais. O fusion, no entanto, estava criado e seguiu o seu caminho próprio. Muitos dos integrantes do grupo de Miles saíram e formaram as suas próprias bandas, como foi o caso de Chick Corea, John McLaughlin, Jack DeJohnette, Wayne Shorter e Joe Zawinul. Estes dois ultimos juntaram-se ao grupo Weather Report, que se iría transformar num dos mais populares e influentes grupos musicais da época. O saxofonista Shorter trabalhou com Art Blackey e Zawinul com Cannonball durante a época do hard bop.
Com formação clássica Joe Zawinul utilizou os seus inúmeros teclados electrónicos para criar um som orquestral, diferente das demais bandas fusion da época. A banda original, para além de Zawinul e Shorter, era formada pelo baixista Miroslav Vitouš, o percussionista Airto Moreira e o baterista Alphonse Mouzon. Outros músicos que participariam no projecto seriam o genial Jaco Pastorius, o baterista Peter Erskine, o tambem baixista Victor Bailey, o baterista Omar Hakim e os percussionistas Alex Acuña, Jose Rossy e Mino Cinelu. O disco com mais êxito dos WR foi Heavy Weather de 1977, no qual se incluía o tema Bidland, hoje considerado um standard.

quinta-feira, 22 de março de 2012

O regresso de Dexter Gordon.

"O jazz está morto." Dizia Miles Davis, no início dos anos 70.
A casa onde Louis Armstrong cresceu, em New Orleans, foi demolida em 1964 e deu lugar a uma esquadra da polícia; o Lincoln Gardens, clube onde "Satchmo" tocou com King Oliver nos anos 30, deu lugar a um empreendimento residencial; a maior parte dos clubes onde Charlie Parker ou Lester Young tinham tocado encerraram também as portas; o famoso Cotton Club, de Nova Iorque, onde Duke Ellington gravara e descobrira pela primeira vez o seu som, tambem encerrara as portas; assim como o Savoy, o Birdland, o Five Spot e o Hickory House o ultimo club da 52 Street. Mais indicativo: os lucros da venda de discos de jazz representava um volume de vendas de apenas 3% da industria fonográfica, quando nos anos 30 chegara a atingir os 70%. Teria Miles razão? O jazz estava realmente morto? Muita gente que não gostava de jazz pensaria que sim, quando em 1976 Dexter Gordon, voltou aos EUA, depois de uma longa ausência de 15 anos na Europa, onde o jazz ainda possuía algum culto. O seu regresso deu-se no Village Vanguard. A presença em palco daquele saxofonista negro, alto, carismático, tocando jazz acústico como nos bons velhos tempos, arrebatou a plateia logo nos primeiros acordes e retirou todas as duvidas sobre qual a recepção que poderia ter. Desse espectáculo resultou um álbum, muito a propósito chamado de Homecoming, e cujas vendas animaram as gravadoras a retomar o filão. Um dos nomes que se seguiram foi o de Wynton Marsalis, que se desligou dos Jazz Messengers de Art Blackey. O seu sucesso abriu as portas a outros jovens musicos nas décadas de 80 e 90, Christian McBride, Lewis Nash, Steve Coleman, Joe Lovano, Cassandra Wilson e Joshua Redman foram todos figuras importantes no ressurgimento e desenvolvimento do género.

Whitney James, uma estrela nascente.

A vocalista Whitney James estudou teatro musical e ópera antes de enveredar pelos caminhos do jazz, e essa formação teatral tem sido bastante importante na carreira que tem seguido dentro do género. As suas performances carregam sempre um efeito surpresa e possuem bastante qualidade original, pois nunca canta uma canção da mesma maneira, procurando sempre surpreender o ouvinte.

 "É isso o que eu amo nesse estilo de musica, a espontaneidade que as canções possuem," diz James. "Uso a minha voz como um instrumento - é sempre isso que espero. Mas se o usar sempre da mesma forma, tende na ficar absoleto e então paramos de descobrir coisas acerca da canção."
 O seu aclamado álbum de estreia, The Nature of Love, lançado em 2010, revelou uma voz totalmente formada, interpretando com enorme talento um conjunto de standards preferidos. Com Jon Weber como anfitrião e acompanhando ao piano, James traz-nos a riqueza do seu tom alto em interpretações muito conseguidas como "Tenderly" ou "If You Could See Me Now."
 O que alguns críticos tem escrito sobre Whitney James:

“Wow. What a supple, precise, expressive singer. James and Jensen braid their lines beautifully on this album, recalling the great Helen Merrill recording with Clifford Brown. Whitney's a keeper.”
 – Paul de Barros, Seattle Times/Down Beat

 "Rising-star jazz singer Whitney James...has just released a startlingly impressive and mature debut CD, The Nature of Love, which also features the playing of acclaimed trumpeter and flugelhorn player Ingrid Jensen." ~ Philip Booth of the St. Petersburg Times

 Link para o site
http://whitneyjames.com/

segunda-feira, 19 de março de 2012

O som reverberante do guitarrista Kurt Rosenwinkel.

Um génio do jazz da década de 2000, o guitarrista Kurt Rosenwinkel, nascido em 1970, é um dos grandes e mais originais músicos do jazz contemporâneo. Emergiu em meados da década de 90, da safra de músicos como Mark Turner, Brian Blade, Brad Mehldau, Jeff Ballard e Joshua Redman. Inicialmente, Kurt começou por caminhar nos trilhos traçados pelos célebres guitarristas Pat Metheny e John Scofield. Mais tarde, passou a procurar o seu próprio estilo de improvisar e a sua própria sonorização na guitarra, incorporando nos seus improvisos doses ténues de distorções, reverb, delay, efeitos de sintetizadores, e outros efeitos; porém, cada um desses efeitos são aplicados em dosagens suaves e com uma especialidade muito bem elaborada, o que lhe permite ter uma sonoridade pós-moderna na guitarra semi-acústica e que é considerada totalmente única e, ao mesmo tempo, parecida com a tradição dos grandes guitarristas do jazz acústico. Não sendo um músico muito rápido ou tecnicamente virtuoso, Kurt Rosenwinkel pode ser considerado um dos principais jazzistas que ajudaram a definir as roupagens do estilo contemporâneo do "modern post-bop", construindo uma aclamada reputação não só pelo seu som levemente reverberante e único, mas também pelas suas composições, perfeitas e que trazem um lirismo ímpar. Em 2011, Rosenwinkel lançou o álbum Our Secret World em parceria com a Orquestra de Jazz de Matosinhos.

domingo, 18 de março de 2012

Cinco gravações notáveis no Village Vanguard

Para os musicos de jazz tocar no Village Vanguard é qualquer coisa de especial, para gravar existe um rito de passagem. Alguns conseguiram: cinco performances que fazem parte da história do Jazz.

Sonny Rollins, A Night At The Village Vanguard 

 Em 1957, Sonny Rollins estava no inicio do seu pico criativo, era já um improvisador magistral capaz de transmitir toda a sua musica com o máximo de virtuosismo. As gravações no Vanguard nascem num período que lhe é bastante favorável, numa altura em que encontrou o máximo de de liberdade num trio reduzido ao essencial do tenor, baixo e bateria, e os multiplos takes atestam essa fluente parceria. O disco 1 é realçado por dois takes de "A Night in Tunisia", o primeiro gravado numa matiné com o baixista Donald Bailey e o baterista Pete Laroca, a segunda versão, mais rápida, no desempenho da noite com os seus acompanhantes regulares, o baixista Wilbur Ware e o baterista Elvin Jones. O segundo CD continua a performance atingida durante a noite com Ware e Jones. É um trio excepcionalmente talentoso, em que cada músico parece inventar novas maneiras de swingar, sem uma nota ou uma oportunidade musical desperdiçada. Rollins e Ware revelam a sua relação com Thelonious Monk na capacidade de arrastar a musica para fora das complexas inflexões rítmicas. É especialmente evidente na segunda versão de "Softly As In A Morning Sunrise". Neste contexto, Jones tem uma oportunidade de mostrar o quão melódico baterista era. As duas versões de "Get Happy" demonstram a capacidade de Rollins para fazer música complexa e inteligente do material mais banal, enquanto "What is This Thing Called Love" é um tour de force inventivo e segurado pelo grupo.


John Coltrane, Complete 1961 Village Vanguard Recordings

Coltrane tinha recentemente assinado pelo selo Impulse, quando o produtor Bob Thiele decidiu montar os equipamentos de gravação no Village Vanguard, em novembro de 1961. Foi um período crucial no desenvolvimento artístico de Coltrane, que não era estranho á controvérsia, mas a controvérsia que esta música extremamente radical despertou entre o público de jazz, foi um autêntico choque. Os críticos, incluindo aqueles que um ou dois anos antes haviam defendido Giant Steps e My Favorite Things, agora ridicularizavam a música como anti-jazz ou pior. Por certo esta é uma das fases mais desafiadoras do Coltrane pré-1965, mas é também uma musica cheia de incrível invenção e alegria, que todos os fãs de jazz de mente aberta devem tentar apreender. Há mais de quatro horas de música aqui, com várias versões que estão entre as maiores gravações da carreira de Coltrane.


Bill Evans Trio, Sunday At The Village Vanguard

 Esta gravação ao vivo pelo Bill Evans Trio no Village Vanguard em 25 de junho de 1961, marcou o fim de uma das combinações instrumentais mais sublimes da história do jazz quando o baixista Scott LaFaro morreu num acidente de carro 10 dias depois. É uma gravação que teve parto difícil porque Evans, um perfeccionista notório, estava relutante em registrar. O intercâmbio entre Evans no piano, LaFaro no baixo e Paul Motian na bateria é de recordar pela sua beleza emocional e precisão técnica. Os múltiplos takes de "Gloria's Step," "Alice in Wonderland," "All of You," e "Jade Visions" mostram a invenção que estes musicos trouxeram a cada performance fazendo com que cada repetição do material musical pareça um movimento de uma suite.



Art Pepper, Saturday night At The village Vanguard 

Estas são as primeiras gravações ao vivo de Art Pepper. E são essenciais na colecção de qualquer fã de jazz. Hoje em dia não existe um sax alto com o fogo e a paixão de Art Pepper, e estas gravações exemplificam isso, que era um musico incrivel e com um técnica muito pessoal. Comparações com Sonny Stitt, Sonny Criss, Phil Woods e Cannonball são inuteis. Todos eles seguiram "Bird" e descobriram o seu próprio som. Nestes registos encontramos Pepper numa atmosfera relaxante com uma grande secção rítmica permitindo-lhe liberdade total de improvização: George Cables, George Mraz and Elvin Jones. Pouco antes de morrer, afirmou que era o melhor saxofonista vivo - talvez fosse. Como Bird uma vez disse "If you don't live it, it won't come out of your horn." Certamente que Art Pepper o fez.

Thad Jones & Mel Lewis, Live at The Village Vanguard 

Um álbum de jazz de referência, apresentando uma das grandes bandas top de todos os tempos. Composto pela fina nata dos músicos de jazz de Nova York, banda de Thad Jones/Mel Lewis contou com a escrita inspirada de Jones e a condução, swinging-like-hell da bateria de Lewis. O repertório era limitado, a maioria destas seleções podem ser encontradas noutros álbuns, nomeadamente nos The Village Vanguard Live Sessions #3 e no Potpourri. Musica de muita classe, e com um swing que não deixa ninguém indiferente.