Há uma cena num filme de Woody Allen que demonstra toda a paixão que Woody Allen sente pelo Jazz: em Hannah e suas irmãs, à saída de um bar onde Bobby Short cantou I´m in Love Again, após um desatroso encontro, o personagem de Allen diz para Dianne Wiest, "You don´t deserve Cole Porter!".
Uma das características de quase todos os filmes do realizador norte-americano é a inclusão de Standards de Jazz, ou musicas do Jazz mais tradicional, as excepções são Match Point, em que a ópera domina toda a banda sonora, e Cassandra´s Dream, música de Phillip Glass. Mas esta paixão de Woody Allen vai para além da música nos seus filmes: é sabido a sua ausência da cerimónia de entrega dos Óscares em que ganhou o prémio de Melhor Realizador por Annie Hall, por se encontrar a tocar com a sua banda no Carlyle em New York.
Apesar das suas preferências irem para os arranjos mais antigos e melódicos, o cineasta já abriu excepções para músicos modernos, como o pianista Thelonious Monk, no adorável “Alice”, em que se ouve "Darn That Dream" na cena de amor entre os personagens de Mia Farrow e Joe Mantegna.
No entanto, é inesquecível o encantamento que nos proporciona a banda sonora de Manhattan, composta por canções de Gershwin, interpretadas pela Orquestra Filarmónica de New York, "Rhapsody in Blue", “’S Wonderful”, “Embraceable You” e “I’ve Got a Crush on You”, são pérolas de beleza indescritível. Não é incomum ouvir pessoas confessar que, até verem o filme "Sweet and Lowdown", nunca tinham ouvido falar de Django Reinhardt: o improvável missionário baptizando milhões nas aguas límpidas do Jazz.
O jazz, juntamente com a cidade de NY e as neuroses de Allen, são elementos indissociáveis dos seus filmes, uma espécie de "santa trindade", e que permitem nas primeiras cenas de exposição de qualquer dos seus filmes, reconhecer a patente "woodyana".
Seja nos seus alteregos jazzófilos, servindo de mote para diálogos amorosos ou até dando o tom para cenas corriqueiras, Woody Allen tem o dom de usar o Jazz renovando-o constantemente, sem nunca o deixar com ares pedantes ou com roupagens antiquadas.
E se Allen tem feito isto pelo Jazz, a magia dos seus filmes seria a mesma sem a sua plena entrega a este género?
Possível, mas pouco provável.
Sem comentários:
Enviar um comentário