terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As herdeiras da tradição vocal, Parte 1

Cantar Jazz é uma combinação única de todos os géneros musicais: desde o R&B aos blues, da soul ao rock, ou do rap ao hip hop. O que por si só acarreta a responsabilidade de não ser uma descrição fácil.
Ao longo da historia jazzistica, um punhado de cantores, nomeadamente Louis Armstrong, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Billy Eckstine, Joe Williams, Ella Fitzgerald e Carmen McRae, elevaram o jazz cantado ao pico mais elevado das artes musicais.
Após esse naipe veio uma série de sólidas cantoras de jazz que continuaram essa tradição, nomeadamente a scatmaster Betty Carter, a suave Shirley Horn e a sempre inovadora Abbey Lincoln. Esta geração ia carregando a tocha do jazz, mas o seu desaparecimento, trouxe novas preocupações acerca da defesa do grande legado do jazz no periodo pós- Vaughan e pós-Fitzgerald.
Eis cinco das grandes cantoras que entre o publico e a crítica, dividem opiniões acerca de quem entre si merece o epíteto de Primeira Dama da Canção, título que esteve entregue a Ella Ftzgerald durante os longos e saudosos anos que esteve entre nós. Dee Dee Bridgewater, Rachelle Ferrell, Dianne Reeves, NNENNA Freelon e Cassandra Wilson.
As opiniões divergem sobre os méritos relativos dessas cantoras. Embora alguns puristas afirmem que Wilson, não é uma cantora jazz, no sentido mais restrito do termo, a verdade é que os fãs acreditam que é ela que enverga o manto de Primeira Dama do jazz.



A carreira de Dee Dee Bridgewater tem uma certa dualidade. Uma cantora das grandes tradições do jazz e uma actriz, uma estrela na Europa, e invisível em casa, mas que floresceu no seu exílio artístico. Voltou mais tarde aos Estados Unidos para lhe ser reconhecido o devido talento. Tem sido chamada de a grande cantora jazz da sua geração. Em 1995 lançou o CD, Love and Peace: A Tribute to Horace Silver, que lhe valeu a terceira nomeação para os Grammy. Live in Paris e Keeping Tradition, foram as outras gravações que também lhe valeram respectivas nomeações. Grammy que venceria por duas vezes , ambas no mesmo ano, com o álbum Dear Ella. É também uma actriz talentosa, que tem seguido uma carreira paralela em musicais, que começou com The Wiz, em 1974, em que recebeu o Tony Award para Melhor Atriz Secundária. Bridgewater foi também a primeira atriz negra a assumir o papel de Sally Bowles em Cabaret, que foi levado à cena no Theatre Mogadoro, em Paris.




A compositora, letrista, arranjadora e vocalista, Rachelle Ferrell, leva todos os seus dons e o seu alcance de voz de 6 oitavas para um concerto. É uma raridade no mundo da música, com contratos de gravação em editoras de jazz e de pop/R&B. Foi premiada com um prêmio Pollstar para a melhor nova artista contemporânea de jazz em 1994. A consistência de Ferrell enche as maiores salas de concerto, e o seu sucesso foi predito por, nada mais nada menos, que Dizzy Gillespie, que disse a seus pais, "Rachelle será uma das maiores forças da industria do jazz". O seu primeiro Cd para a Blue Note, Instrument, esteve no Jazz Top da Billboard em 1995: "Escolhi este título para lembrar ás pessoas que a voz era, e é o primeiro instrumento...Eu quero trazer de volta o valor intrínseco da voz.", diz ela.




A cantora/compositora NNENNA FREELON é uma talentosa artista e educadora que já é amplamente respeitada nos meandros do jazz. Vencedora de um Billie Holiday Award da prestigiosa Academic Du Jazz, pelo seu Shaking Free, e que também lhe valeu uma das cinco nomeações para os Grammy. Freelon abriu para Ray Charles e Al Jarreau, entre outros. Maya Angelou, diz que Freelon lembra uma "jovem Sarah ou Ella ou Dinah. A beleza duradoura de sua voz faz o ouvinte recordar-se de ter ouvido tão transparente talento, 35 e 40 e até 50 anos atrás".





Dianne Reeves reuniu três gerações de artistas no seu álbum de 1996, para a Blue Note, The Grand Encounter. Nesse álbum, Reeves mergulhou profundamente nas raízes jazz, e escolheu os seus standards favoritos para gravar com seus artistas favoritos. O veterano vocalista Joe Williams junta-se a Reeves na balada, "Tenderly", e o esforço produziu "pura magia", segundo Reeves. Williams não foi de menos cortesia: "Dianne Reeves é a extensão legítima de Ella, Sarah, Carmen e de todos que possam pertencer a esse grande agrupamento,", diz ele. Dianne Reeves dedicou The Grand Encounter, à falecida Ella Fitzgerald. Em 1987, Reeves actua no "Echoes of Ellington", concerto em Los Angeles, que lhe valeu a sua primeira indicação para um Grammy. Nomeação que repetiria em 1995 com o CD, Quiet After the Storm. Grammy que venceria por quatro vezes com os álbuns: In the Moment - Live In Concert (2001), The Calling: Celebrating Sarah Vaughan (2002), A Little Moonlight (2003) e Good Night, and Good Luck (2006).




Cassandra Wilson transcende qualquer categoria e desafia as convenções: "Eu não me defino, eu faço o que faço", disse ela. E se a aclamação do publico é um barómetro então o que ela faz, fá-lo muito bem. Com quase duas dezenas de álbuns a solo por trás dela, os críticos coroaram-na como uma das grandes vocalistas de jazz da sua geração. Embora não se defina apenas como uma cantora de jazz, Wilson reconhece a influência que o jazz tem desempenhado na sua carreira: "Naturalmente, a sensibilidade do jazz está lá. É a minha fundação. O meu pai era um músico de jazz e foi essa a primeira música a que eu estava exposta. Entretanto, eu escuto todos os tipos de música, R & B, folk, blues, tudo." A sua versão assombrosa de "Strange Fruit" de Billie Holiday, transporta um ouvinte para a era pré-Direitos Civis, quando as árvores do sul floresciam com os corpos dos negros linchados. Cassandra conta que a música foi particularmente difícil para ela cantar: "Mas as emoções são reais, as emoções trabalham na memória dos sentidos, as emoções trabalham em você espiritualmente.". Cassandra venceu dois Grammys, em 1996 o prémio para Melhor Performance Vocal de Jazz por "New Moon Daughter", e Melhor álbum Vocal de Jazz por Loverly em 2009.
 

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