sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A magnifica Patricia Barber.*

Sobre a mais interessante figura do jazz dos tempos actuais, Patricia Barber, a revista W escreveu: «Tem a voz de uma cantora de cabaré, a alma de um poeta beatnick e a mente de um professor de Inglês.» Inspirada maneira de descrever as inúmeras qualidades desta mulher: grande voz, uma letrista e compositora formidável, excelente pianista e ousada na forma como desdenha os «estilos musicais», classificações mais próprias de críticos do que de músicos, sobretudo os mais jazzísticos. Digo isto porque o jazz é em si música de fusão, resultado do encontro de duas grandes culturas, africana e europeia. «As pessoas tentam tornar-se donas da música», afirma ela, «mas a música não se deixa conter. Apesar de todos aqueles que não querem que a música mude, esta arranja sempre uma forma de se escapar como um curso de água entre as pedras». A vontade de incorporar no jazz tudo o que lhe soa bem mostrou-a logo sem reservas no seu disco de estreia, Distortion of Love, de 1992, quando incluiu no repertório o tema My Girl, de Smokey Robinson. À época nenhum músico de jazz o fazia. Foi preciso esperar um ano para que Cassandra Wilson gravasse Blue Light Till Dawn. Arrasar barreiras musicais é o que faz brilhantemente em Mythologies, um projecto que talvez ajude a perceber por que razão a W se referia à «mente de um professor de Inglês.» Barber criou um ciclo de canções baseado nas Metamorfoses, de Ovídio, escrita no ano 14. As Metamorfoses são compostas por um conjunto de 15 livros nos quais Ovídio descreve a criação e história do mundo segundo a mitologia greco-romana. Eu nunca li e até descobrir o disco de Barber não fazia ideia de quem era Ovídio – se há algo que a passagem dos anos nos dá é uma maior consciência da nossa ignorância. Fui tentar saber um bocadinho mais sobre estas Metamorfoses e descobri que um dos temas recorrentes da obra é o amor – o amor pessoal. Mythologies é um assombro. Magníficas letras, contrastes, ironias, paixões, sarcasmos, músicas, fusões espectaculares entre linguagens musicais diferentes. Quando o álbum saiu em 2006 a revista JazzTimes descreveu Patricia Barber como «a mais corajosa, intelectualmente estimulante e, por conseguinte, a mais interessante compositora, cantora e pianista da cena jazzística americana.» A primeira faixa – The Moon – revela bem o tremendo disco que é Mythologies. Sendo assim…

* artigo de Marco Santos no blog Bitaites.

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